Menos desperdício: como descarte e resíduos de alimentos estão virando produtos de beleza
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Menos desperdício: como descarte e resíduos de alimentos estão virando produtos de beleza

por Manuela Aquino

Você já ouviu falar em upcycling: é o uso daquilo que iria para o lixo, do que é considerado sem função. Era. E a atuação da indústria de beleza vem buscando o aproveitamento total dos ingredientes, inclusive daquilo que anteriormente seria descartado por exemplo, pela indústria alimentícia. Segundo a empresa de pesquisas e tendências de mercado Ecovia Intelligence, o número de lançamentos deste tipo vem acontecendo em uma escala crescente. Um exemplo é Koffee’Up, ingrediente desenvolvido pela Givaudan, que usa o café, ou melhor, grãos de coffea arabica que seriam descartados, para produzir um óleo. Segundo a Givaudan, ele é uma alternativa tão poderosa quanto o argan.

Ainda segundo a análise da Ecovia, a pandemia contribuiu com a tendência. O aumento do valor de alguns ativos, o transporte mais demorado e mesmo a interrupção no fornecimento de ingredientes naturais fez com que fontes locais passassem a ser consideradas. Com isso, os subprodutos alimentares andam mais valorizados. Vale lembrar que um terço de toda comida produzida no mundo anualmente, cerca de 1,3 bilhões de toneladas, são desperdiçados. E essa produção também tem impacto ambiental. Então, o upcycling traz a oportunidade de romper com esse círculo do desperdício que também tem impacto ambiental. 

Uma iniciativas da União Européia mostra que a indústria alimentícia também poderia lucrar com o investimento em pesquisas para aproveitamento total de certos produtos: a Biorice desenvolveu para a indústria cosmética um extrato dos grãos de arroz descartados para fabricação de pós faciais. Foi da necessidade e da oportunidade de se aproveitar tudo que nasceu uma empresa que só faz upcycling para a indústria cosmética — a Full Circle. No portfólio eles têm óleo de framboesa, pós para esfoliantes de blueberry e azeitona.

Feito aqui
Aqui no Brasil, a Natura é uma das empresas que está de olho no upcycling e não é de hoje. “Há muitos anos temos um olhar atento ao uso integral dos ingredientes”, diz Viviane Franjose, gerente global de Natura Ekos. Segundo ela, o maracujá, por exemplo, é usada a polpa para diversos produtos da linha, assim como as folhas que dão o óleo e as sementes entram na esfoliação. Além disso, outras sementes de frutos vindas de cooperativas que fabricam sucos, por exemplo, também vêm da região amazônica para uso em sabonetes. Outro esfoliante tem como base pedaços de arroz. “A pesquisa dos resíduos é algo constante, pois nele podemos encontrar ativos, como óleos que podem ser usados nas fórmulas”, conta. 

Do mesmo grupo, a The Body Shop vem fazendo um trabalho contra o desperdício bem interessante com o uso de frutas que não tem uma aparência perfeita, por exemplo, e que normalmente não são selecionadas para importação e ficam no canto nos mercados. Em uma entrevista para o site Brazil Beauty News, a gerente da marca Débora Gentil, explica que um dos fundamentos da marca é o aproveitamento total dos insumos. Segundo ela, o óleo de morango usado na fabricação de produtos vem das sobras da fabricação de geleias.

Juntas, Natura e Body Shop anunciaram, em setembro deste ano, a implantação de um programa de logística reversa nas lojas: a cada cinco embalagens vazias, menos miniaturas ou amostras, um produto será adquirido pelo consumidor. As ações são um reflexo do comprometimento com o meio ambiente do grupo como um todo: do ingrediente ao descarte da embalagem.

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