A gente consegue falar de beleza sem falar só de produto de beleza?
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A gente consegue falar de beleza sem falar só de produto de beleza?

por Vânia Goy

Quando criei o Belezinha, há alguns anos, queria duas coisas (que basicamente continuam guiando meu trabalho até hoje): a primeira era conhecer rituais de beleza de gente inspiradora. Parece frívolo à primeira vista, mas acredito que essas escolhas são potentes e transformadoras. Às vezes elas nos dão segurança, nos ajudam a explorar nuances da nossa personalidade, apresentar a gente pro mundo, honrar nossas raízes e essência. Não foi à toa que o site estreou com Ney Matogrosso, na época com 73 anos, falando da sua relação poderosa com a maquiagem. Falar de beleza também é falar de rituais cotidianos. Das coisas que a gente faz todo dia sem nem perceber, como tomar banho, mas ganham camadas de significado quando nos ajudam a relaxar, a levar a mente para além da lista de tarefas a cumprir.

O segundo objetivo era testar produtos. Cresci profissionalmente num boom do mercado de beleza aqui no Brasil. A gente passou dos catálogos para o mundo dos e-commerces. Das gôndolas para lojas inteiras do assunto. Sou uma tentadora apaixonada de produtos. Fazer resenhas e reportagens com experts sempre foi uma forma de botar minha experiência e olhar apurado de jornalista nos lançamentos relevantes. Será que dá para facilitar a vida de quem fica perdido com tanta novidade a fazer investimentos que valem a pena? Acredito piamente que sim!

E é aqui que levanto um ponto de atenção. Ou o meu atual ponto de tensão. Quando falo que sou editora de beleza, o primeiro comentário que recebo, em geral é: “nossa, você deve ganhar muitos produtos”. Agora que skincare está mais em alta do que nunca, toda semana chegam pedidos para eu fotografe a minha “coleção de cremes”. Não à toa, fotos de prateleiras lindas, repletas de potes rosadinhos e empilhados, viralizaram na internet. Quando posto algum make ou massagem facial no Instagram, a primeira coisa que recebo é uma série de mensagens perguntando que produtos foram usados. Em geral, a resposta está na foto seguinte, mas 14 segundos parece tempo demais para chegar até lá. Queremos respostas imediatas, temos vontades imediatas.

Estamos pensando realmente no porquê desejamos ter tudo? Ou desejamos não ficar de fora do que está rolando? No ano passado, isso ficou tão evidente nos encontros que fiz com meus amigos no 4 Ideias que retomo o assunto aqui. A quantidade de gente dizendo que comprava mais do que conseguia usar, que tinha dificuldade de desapegar de produtos já vencidos ou se desinteressava rápido pelo que tinha quando via algo novo era enorme.

Eu também amo testar tudo! Fico tão animada que dá pra ver nos Stories o quanto repito favoritos ou o quanto comemoro quando um lançamento esperado demais chega por aqui! Mas quero que a gente retroceda uns passos para pensar que a gente NÃO PRECISA ter tudo AO MESMO TEMPO nem IMEDIATAMENTE. Que não dá pra se comparar, ou comparar o acervo, com quem vive isso como profissão. A gente quer sentir prazer e realização, não sentir inferioridade ou frustração.

Proponho dois exercícios para gente fazer essa semana. Faça uma conta comigo: se você mantém uma rotina disciplinada de 3 passos de skincare, ela muda, em média a cada três ou quatro meses. A gente já está falando de usar cerca de 10 produtos por ano. É coisa para caramba! Outra conta difícil, mas muito boa de se fazer: abra o armário e faça uma soma rápida de quanto dinheiro está parado ali, nos potinhos que se tornaram desinteressantes.

Vamos passar os próximos dias falando dos nossos rituais de beleza? De COMO usamos os nossos produtos amados como ferramentas de momentos maiores? Tô nessa até sexta-feira aqui no site e no Instagram!




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