Um guia de beleza made in England, parte 2
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Um guia de beleza made in England, parte 2

por Vânia Goy

Por Carla Valois, do Morning Beauty

Você achou que a aquele guia de Londres que a gente publicou era definitivo? Pois existe uma segunda parte com mais seis marcas incríveis, todas fundadas ­e manufaturadas na Inglaterra: Lush, Pai Skincare, ila, ESPA, Miller Harris e REN Clean Skincare. A demora tem uma ótima justificativa, já que precisei testar mais de 30 produtos para escrever com propriedade e, claro, dividir com os leitores do Belezinha o que vale e o que não vale o investimento.

Lush Lá pelo fim dos anos 1980, Mark Constantine e sua esposa, Mo, fundaram a Cosmetics To Go, para a qual produziam, na cozinha de casa, cosméticos artesanais, compostos basicamente por ingredientes orgânicos, como frutas, óleos essenciais e vegetais. A marca logo virou fornecedora da The Body Shop, que, no início da década seguinte, comprou todas as fórmulas do casal por £6 milhões. A quantia, no entanto, foi mal investida e a Cosmetics To Go faliu em 1994. Em abril de 1995, menos de seis meses depois, Mark e Mo inauguraram a primeira loja da Lush, em Poole, no sul da Inglaterra. Hoje, a Lush tem cerca de 100 lojas só no Reino Unido e está presente em mais de 20 países, inclusive, desde junho passado, no Brasil.

A Fê Canna até já falou de alguns de seus produtos aqui. Eles são totalmente livres de conservantes sintéticos, além de todos serem vegetarianos ou veganos. A marca não testa em animais – em 2012, aliás, lançou o Lush Prize em parceria com a ONG Ethical Consumer, em que premia pesquisas científicas realizadas sem crueldade – e adquire boa parte dos ingredientes através de comércio justo; as embalagens, por sua vez, são recicladas e recicláveis. Em 2009, a Lush abriu o primeiro spa na Kings Road, em Londres; atualmente, possui outros também em Edimburgo, Liverpool, Kingston­ Upon Thames, Paris, Seul, Tóquio e São Paulo (Rua da Consolação, 3459).

Experiência pessoal: amo os produtos da Lush, todos os que já provei são muito, muito bons! Estou usando o xampu Fairly Traded Honey, o condicionador Retread e a máscara H’Suan Wen Hua – o cheiro de cravinho é fan­tás­ti­co!

No rosto: o iluminador facial Feeling Younger é ótimo, dá para aplicar sozinho ou misturar com a base, e o esfoliante labial Mint Julips, que deixa os lábios bem macios e é comestível, pois é composto por açúcar, óleos essenciais de jojoba e hortelã e extrato de baunilha. Para o corpo, prepare­-se, a lista é bem longa: com o gel de banho em barra The Olive Branch, formulado com óleos de oliva, bergamota, limão e tangerina, limpo as “impurezas” e, logo em seguida, esfolio com a manteiga corporal Buffy, que traz manteiga de cacau e de karité e libera farelos de amêndoas, arroz e feijão azuki. O mais prazeroso ainda vem depois: o condicionador corporal Ro’s Argan, maravilhoso, hidrata e tem até castanhas­ do ­Pará na fórmula, além de óleo de argan e manteigas de cupuaçu, cacau e karité. Ao sair do banho, enfim, aplico a loção hidratante Dream Cream no corpo, que, aliás, está entre os itens mais vendidos da Lush e traz leite de aveia, água de rosas e oléo de camomila­ azul como ingredientes ­base. Quando lembro, passo nas mãos e nas extremidades a manteiga Lemony Flutter, que cheira muito bem – é composta por cera de abelha,manteigas de karité e manga, extrato de gardênia e oléos de abacate, linhaça, camomila-azul, coco e, claro, limão. Para terminar, tenho que dizer que adoro as barras de massagem da marca e quero, em breve, experimentar a linha de maquiagem, chamada Emotional Brilliance. <3

Pai Skincare Aos vinte e poucos anos, Sarah Brown desenvolveu urticária crônica, erupção cutânea caracterizada por vermelhidão e que causa coceira e ardência. Assim, sua pele tornou-­se bastante sensível e reativa, inclusive aos produtos que usava no rosto e no corpo. Ao mesmo tempo, começaram a aparecer espinhas e os médicos que procurou não cansavam de receitar remédios para suavizar alergias. Em 2004, chocada com o que encontrou nas fórmulas dos cosméticos que possuía, ela pediu demissão da multinacional de vinhos em que trabalhava como RP e foi estudar para aprender a fabricá-­los. Em 2007, com £15 mil, Sarah lançou a Pai Skincare (em maori, “pai” quer dizer bom). A marca não utiliza álcool, fenoxietanol, formaldeído, fragrâncias artificiais, petroquímicos, parabenos, sulfatos, ftalatos ou cera de abelha (apesar de orgânica, a cera de abelha é comedogênia, ou seja, bloqueia os poros). A Pai não testa em animais, é adequada para o uso veganos e fabrica somente embalagens recicláveis, sem contar que possui o certificado da Soil Association. Através do próprio e­commerce, entrega em 40 países, inclusive no Brasil, e está disponível em várias filiais do supermercado Whole Foods no Reino Unido, no Canadá e nos Estados Unidos; na França, é comercializada na Oh My Cream, em Paris, na m&oz, em Lyon, e na Escale Sensorielle, em Molsheim. Vale dizer ainda que Natalie Portman adora a Pai e já a mencionou em entrevistas que deu para a Elle, Harper’s Bazaar e Tatler.

Experiência pessoal: o creme de limpeza e demaquilante Camellia & Rose Gentle Hydrating Cleanser é ótimo e cheira muito bem, já que é formulado com manteiga de karité e óleos essenciais de camélia, amêndoa, gerânio, lavanda, rosa damascena e rícino; ele remove direitinho a maquiagem (inclusive dos olhos) e, de acordo com a Pai, é adequado até para quem possui rosácea. Também gostei bastante do hidratante facial Geranium & Thistle Rebalancing Day Cream, que, assim como o Miracle Cleanser da Aurelia Probiotic Skincare, atua maravilhosamente como primer. À noite, estou usando o óleo Rosehip Bioregenerate, composto pelo extrato das sementes e das frutas da rosa mosqueta, cujas propriedades, aliás, incluem níveis altíssimos de ácido trans­retinóico e de carotenóides; adoro a cor e a fragrância dele, e minha pele sempre amanhece mais macia. Depois do Rosehip Bioregenerate, aplico aos redor dos olhos o Echium & Argan Gentle Eye Cream, que combina óleo de argan, óleos essenciais de gerânio, laranja, girassol, jasmin e de sementes de echium, damasco, cardo e rosa mosqueta, manteiga de karité e ácido láctico, obtido da beterraba. <3

ILA Aromaterapeuta, enfermeira e professora de ioga, Denise Leicester lançou a ila – o nome significa Terra, em sânscrito – em 2005, no Reino Unido. A marca, desde o início, utiliza ingredientes orgânicos da Índia, do Paquistão, do Marrocos e até do Brasil, obtidos eticamente por meio de parcerias com cooperativas locais; todos os componentes, após importados, são misturados nas Cotswolds, interior da Inglaterra, e tudo, tudo mesmo, é desenvolvido a partir de plantas ou minerais. Como Denise é bastante ligada à própria espiritualidade e a terapias holísticas, a ILA também está, necessariamente, conectada ao bem-estar individual e coletivo, à harmonia com a natureza e a conceitos de energia, pureza e vitalidade, por isso, inclusive, o lema “além do orgânico”. A marca possui as linhas Glowing Radiance e Rainforest Renew – com oléo de babaçu extraído em colaboração com a ONG britânica Tribes Alive, que atua em comunidades indígenas no Pará e no Mato Grosso –, além de linhas de cuidados para a pele, para o corpo, produtos para o banho e para a casa (incensos, velas aromáticas e difusores).

Experiência pessoal: a Face Mask for Revitalising Skin, da ila, é simplesmente maravilhosa.  Formulada com argila, oléo de argan, óleo de semente de rosa mosqueta, água e óleo de rosa damascena, cristais de sal do Himalaia e sândalo, ela hidrata, tonifica e suaviza a pele, além de ser verde musgo, o que a deixa ainda mais divertida de usar. Também gosto muito do Body Oil for Vital Energy – uso depois do banho, a marca afirma que é antioxidante e ajuda a reduzir celulite – e do esfoliante corporal Body Scrub for Energising and Detoxifying (ideal para quem tem banheira em casa). Os produtos da ila não são baratos, mas valem o investimento; pretendo experimentar ainda muitos outros no futuro. Ah, detalhe importantíssimo: a ila entrega no Brasil através de seu e-commerce.

ESPA Susan Harmsworth escrevia sobre beleza para a Vogue, em Londres, quando se casou com o braço direito do cabelereiro Vidal Sassoon e com ele, no fim da década de 1960, se mudou para os Estados Unidos e, em seguida, para Toronto, no Canadá. Lá, sem emprego como jornalista, ela abriu um salão com ares de spa, que, quando se divorciou, quase 15 anos depois, vendeu por milhões. Já com dois filhos, Susan voltou para a Europa: primeiro foi para a França, onde trabalhou com talassoterapia, mas logo retornou ao Reino Unido e, em 1993, aos 48 anos, lançou a ESPA, cujos produtos, inicialmente, eram apenas para o uso profissional.

A ESPA hoje é comercializada em mais de 50 países e está presente em mais de 450 spas; sua proposta – holística – é tratar corpo e mente, assim como aliar beleza e saúde e ciência e natureza. A marca não testa em animais e não utiliza álcool, cores e fragrâncias sintéticas, oléos minerais, silicones, parabenos, PEGs e sulfatos, além de toda a linha ser adequada para vegetarianos (os únicos ingredientes não-vegetais que usa são cera de abelha, mel, queratina e derivados do leite, como lactato de sódio). A ESPA também possui itens para a casa e dedicados ao público masculino, como cremes anti-idade e  de barbear, loções pós-barba e hidratantes faciais e corporais.

Experiência pessoal: passei uma tarde no spa da ESPA no hotel Corinthia, em Londres. Lá fiz um tratamento para o corpo e experimentei vários produtos, foi ótimo, mas não posso falar sobre eles individualmente, já que fiz apenas uma sessão. Trouxe para casa a Pink Hair & Scalp Mud, máscara – literalmente rosa – para os cabelos e para o couro cabeludo, composta com oléos essenciais de bergamota, semente de damasco e casca de limão. Não senti muita diferença nas duas primeiras aplicações, mas depois da terceira vez que usei meus cabelos ficaram mais leves, sedosos e cheirando muito bem.

Miller Harris Desde muito nova, Lyn Harris já era apaixonada por fragrâncias: seus avós maternos plantavam ervas, flores e vegetais na casa de campo da família na Escócia –“Não há um dia em que não pense naquele jardim. Eu acordava com o aroma de geleias sendo feitas e pão no forno, e com meu avô na carpintaria que tinha na garagem. Mesmo hoje, gosto do cheiro de cedro branco, abeto balsâmico e patchouli” –, e durante as férias de verão, ainda adolescente, ela até trabalhou em uma loja de perfumes na cidade onde cresceu, Harrogate, no interior da Inglaterra. Aos 20 anos, Lyn se mudou para Londres e logo conseguiu um emprego na Aromatheraphy Associates; depois, foi para a França e lá se graduou, em Paris, na ISIPCA e, em seguida, na Roberlet, em Grasse.

Em 2000, de volta a Londres e com £200 mil (£75 mil conseguidas através de empréstimo bancário), Lyn inaugurou a primeira loja da Miller Harris – Miller é o segundo nome do pai de Lyn –, em Notting Hill. A marca tinha aí apenas quatro fragrâncias lançadas; hoje, no entanto, possui mais de 100 produtos, inclusive óleos de banho, loções corporais, sabonetes líquidos para o corpo e para as mãos e velas aromáticas. Os pontos de venda, aliás, também quadruplicaram e atualmente incluem Harrods, Selfridges, John Lewis, Fenwick e Le Bon Marché, à parte três espaços próprios.

Vale mencionar ainda que, em 2010, Samantha Cameron, esposa do primeiro ministro do Reino Unido, David Cameron, presenteou Michelle Obama com um conjunto de velas em miniatura da Miller Harris: assim que a imprensa divulgou a notícia, as vendas das tais velas cresceram cerca de 300%. Apesar do burburinho, a marca continua “de nicho” e intrinsecamente britânica, quer dizer, elegante, mas bastante peculiar, nada convencional.

Experiência pessoal: visitei a loja da Miller Harris em Covent Garden, onde provei todos os perfumes de uma só vez, o que não foi de muita ajuda porque sai de lá confusa com tantos cheiros e sem saber quais quais realmente tinham me agradado. A marca então me enviou, gentilmente, a caixinha de amostras La Collection Découverte, que traz oito  fragrâncias: gostei de todas, mas L’air de Rien, La Pluie, Rose en Noir e Noix de Tubéreuse foram as minhas preferidas.

O L’air de Rien, criado em parceria com Jane Birkin, traz neroli tunisiano em suas notas de cabeça e coração e âmbar, musgo de carvalho, almíscar, baunilha e patchouli nas notas de fundo. Já o La Pluie mistura bergamota, lavanda e tangerina nas notas de cabeça; ylang ylang, jasmin, cassis e flor-de-laranjeira nas notas de coração e, como base, baunilha e vetiver. O Rose em Noir possui framboesa, folhas de violeta e óleo essencial extraído das folhas e dos galhos da flor-de-laranjeira na saída; pimenta preta, rosa damascena e noz-moscada nas no coração; patchouli, vetiver, tabaco preto e sementes de abelmosco nas notas de fundo.

O Noix de Tubéreuse, por sua vez, combina folhas de violeta, tangerina e trevo verdes na saída; tuberosa, jasmin e mimosa nas notas de coração; enquanto a base apresenta âmbar, baunilha e cumaru. Ah, destaque para as embalagens, que são lindas!

REN Clean Skincare Anthony Buck e Robert Calcraft lançaram a REN em 2000, no Reino Unido. Eles a idealizaram, contudo, quando a esposa de Anthony engravidou dois anos antes e desenvolveu alergia a cosméticos: “nos meses seguintes, ela descobriu que poderia resolver seus problemas se evitasse ingredientes sintéticos e utilizasse produtos de pele naturais. Os que ela encontrou, no entanto, foram um fracasso, eram pegasosos, fedorentos e não funcionavam realmente”, explicou à “Vanity Fair”. A linha inicial da marca, já composta por produtos sem óleos minerais, parabenos, petroquímicos, silicones e cores e fragrâncias sintéticas, foi elaborada sob a orientação de Collette Haydon, doutora em Dermocosmetologia e em Farmácia pela Universidade de Lyon, na França.

Em 2015, a REN – que significa limpo (a), em sueco – completa 15 anos; sua filosofia mantém-se baseada em três palavras (Performance, Pureza e Prazer), mas, apesar de alegar ser totalmente livre de componentes alergênicos e sintéticos, alguns itens trazem, por exemplo, fenoxietanol, éter glicólico orgânico alergênico, utilizado como conservante; e carbômeros – polímeros acrílicos hidrossolúveis –, empregados para estabilizar emulsões e dar viscosidade. De acordo com todas as pesquisas que fiz, tais ingredientes não são danosos à saúde; é importante, no entanto, destacar sua presença.

A REN está presente em mais de 50 países, inclusive no Brasil através do Net-A-Porter, da Liberty e da Space NK Apothecary, além de ser vendida na Sephora do Canadá e dos Estados Unidos. A marca também é utilizada em muitos spas do Reino Unido e, dizem, tem Kate Moss, Lily Allen, Sienna Miller e Uma Thurman como clientes.

Experiência pessoal: no final de dezembro do ano passado, visitei o escritório da REN, que fica em Marylebone, Londres. Desde então, estou usando dois produtos da marca: o recém-lançado Keep Young and Beautiful™ (Instant Firming Beauty Shot) e a máscara Flash Rinse 1 Minute Facial. O Keep Young and Beautiful™ é um sérum anti-idade que pode ser aplicado antes ou depois da maquiagem – sempre passo antes do hidratante –; ele deixa a pele mais firme, dá para sentir o efeito minutos depois. Já a Flash Rinse 1 Minute Facial – a REN aconselha usar a cada três dias – é rica em vitamina C e em ácido boswellico e, teoricamente, limpa e tonifica a pele, além de diminuir a aparênca de linhas finas. Eu tenho esquecido de aplicar a cada três, por isso não sei se é realmente eficaz para mim, mas percebi que meus cravos no nariz diminuem quando aplico.

 

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