Uma boa chuveirada é minha saída de emergência!
Relax

Uma boa chuveirada é minha saída de emergência!

por Vânia Goy

Amo amo amo, amo tomar banho. Sou realmente obcecada por esse assunto – volta e meia ele aparece por aqui. Quando preciso resolver alguma coisa no escritório e não consigo pensar vou pra casa tomar um banho. Já perdi a conta de quantas boas ideias tive debaixo do chuveiro. Às vezes saio meio pelada, meio pingando, em busca do celular para anotar alguma coisa. Por isso fiquei zero surpresa quando li este estudo dizendo que as sensações causadas pela temperatura e o barulho da água podem mesmo causar um efeito no cérebro e, dessa forma, abrir espaço para a criatividade. Esse momento é só meu mesmo. E, sempre repito, a gente ainda não tem celular debaixo da água e, em geral, consegue estar sozinha, mesmo que por alguns minutos. 

Retomei o assunto depois de receber o ótimo “Essencial – spa Do Terra“, livro organizado pela Renata Ashcar, expert em fragrâncias, que reúne receitas deliciosas pra gente fazer em casa e um tanto de boas histórias porque banho é mesmo assunto milenar. Muito antes de psicólogos entrarem em cena falando de criatividade, por exemplo, os banhos japoneses, por influência chinesa, já faziam parte de rituais de purificação e festas de primavera. O hábito de frequentar termas quentes existe desde o ano 1.000 a.C, quando a ideia de induzir a transpiração ajudava a remover toxinas e estimular a circulação sanguínea, deixando a energia fluir quando corpo e mente estavam sobrecarregados. Criança, sonhei com um banheira cheia de espuma. Adulta, fiz a maior gambiarra no apartamento que eu alugava até botar a banheira quente pra funcionar (até contei aqui para a revista Gama) em busca desse relaxamento. Sempre soube que a minha sensação favorita na vida era boiar, ainda que eu não tenha sido uma criança do mar. Há pouco mais de dez anos resolvi passar uma semana no hotel Ponto de Luz, que fica em Joanópolis, cidade no interior de São Paulo. Lá tive uma das experiências mais gostosas da vida. Depois de dias de caminhada matinal, yoga, meditação e horas de sono fiz uma terapia na piscina. Era uma espécie de coreografia conduzida pelo terapeuta enquanto eu boiava e mergulhava. Mais do que relaxante, disparou um choro intenso de alívio quando saí da piscina aquecida. 

Também achei incrível, futurista e, ao mesmo, tempo, quase infantil entrar em uma das banheiras que mais parece uma cápsula do tempo do Flutuar Float Center, espaço dedicado à prática de boiar, como acontece no Mar Morto, para fins terapêuticos. Repeti a experiência maravilhosa de passar uma hora boiando numa banheira quentinha com projeções de floresta no teto do spa do Hotel Botanique, quando fiz um detox digital. Fui de lá direto para a minha cama gigante com lençóis de fios infinitos agradecendo as oportunidades que meu trabalho traz. Foi assim testando um verdadeiro hammam no Marrocos, talassoterapia com meus amigos octogenários em Portugal. Imagina o dia que eu puder experimentar onsens no Japão ou termas na Islândia? 

Banho também tem essa coisa mística-protetora. É muito Brasil alguém mandar tomar um banho de sal grosso. Ou, quando a gente vai à feira, a senhora da banquinha de ervas fazer um maço para fazer banho e jogar do pescoço pra baixo. Sou daquelas amigas que manda banho pra todo mundo e que recebe também. Ao longo de toda a pandemia, troquei ervas e banhos com amigas que deixaram sacolinhas de plantas frescas na minha portaria para me tirar dos dias baixo-astral intensos. Eu fervo, seco, rasgo, misturo folhas com água, deixo descansar, pingo umas gotas de óleos essenciais… E assim as receitas vão nascendo. 

Encontro essa sensação revigorante em rituais emblemáticos, como os que a gente faz no Ano-Novo, mas eu penso que tomar banho é um pouco isso pra mim, todo dia. Me dá coragem pra rotina, uma alegria de me arrumar e perfumar. Me ajuda a tirar a persona que vive com a cabeça cheia depois de um dia de trabalho que nem quando tiramos a maquiagem. Na última newsletter falei de organização e nessa aqui de limpeza. Coisas cotidianas que pra mim são um caminho para a renovação.

(a foto é dos bastidores de uma casa de banho tradicional em Marrakesh, onde a lenha alimentava caldeiras por horas e horas)

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