Skincare
Exossomos: o que é dermatologia regenerativa e como eles entram na rotina de skincare
por Larissa Nara
Longevidade é o assunto da vez e, não por acaso, a indústria de cosméticos e cuidados pessoais tem sido profundamente influenciada por esse conceito. Avanços científicos na compreensão do processo biológico de envelhecimento estão levando ao desenvolvimento do que a gente vem chamando de dermatologia regenerativa para reparar células e promover a saúde e vitalidade da pele — em vez de prometer erradicar os sinais visíveis de envelhecimento. “Esse é um campo multidisciplinar de pesquisa e aplicações clínicas focadas no reparo, no restauro ou na regeneração de células, órgãos e tecidos”, diz Bianca Viscomi, dermatologista. “No campo da estética, a ambição é regenerar tecidos que são naturalmente alterados pelo envelhecimento cronológico ou pelo envelhecimento ambiental.”
Segundo a especialista, a dermatologia regenerativa se apoia em três pilares: as células, como as tecnologias que usam células-tronco; os scaffolds, terapias que dão suporte mecânico para que as células funcionem adequadamente (aqui entram os bioestimuladores de colágeno como o Radiesse, por exemplo); e as pistas bioquímicas, ou seja, substâncias que sinalizam que as células estão cumprindo o papel de regenerar a função celular.
Exossomos
E exossomos estão entre os ingredientes-estrela que andam sendo explorados para desencadear a reparação celular. Assunto do momento, eles são pequenas vesículas derivadas das células tronco, principalmente vegetais, ricas em DNA e RNA, que têm atraído grande atenção das comunidades científica e cosmética. “Os exossomos são complexos proteicos com pequenas vesículas extracelulares liberadas por células, que desempenham um papel crucial na comunicação celular”, explica a dermatologista Roberta Zaffari.
Segundo o Daniel Nunes, cirurgião plástico, “exossomos também possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, ajudando a reduzir o estresse oxidativo, fatores que contribuem para o envelhecimento cutâneo. Isso faz com que o tratamento não só melhore a aparência, mas também promova a saúde geral da pele”. Destaque na feira Estetika desde ano, o tema tem tudo a ver a busca por tratamentos altamente biodisponíveis, outra tendência no universo de skincare. “A constante busca por ativos que mimetizam os mecanismos que o próprio organismo produz hoje é uma realidade, e os exossomos se enquadram nesta categoria”, afirma Mika Yamaguchi, farmacêutica bioquímica palestrante sobre o tema no congresso.
Por serem potentes regeneradores dérmicos podem promover diferentes benefícios. “Eles têm sido indicados para tratar manchas e melasma, além de condições como rosácea, quedas de cabelos e alopecias. Também, estimulam a produção de colágeno e elastina, diminuindo rugas e flacidez, além de ajudar a uniformizar a textura e melhorar a elasticidade e a hidratação da pele”, continua.
No consultório
Embora promissores, os tratamentos com exossomos ainda enfrentam desafios em termos de padronização, segurança e regulamentação. No Brasil, este procedimento ainda não foi regulamentado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, seu uso é restrito ao uso tópico, já que a classificação regulamentada dos exossomos por aqui ainda é apenas cosmética.
De acordo com Karla Assed, dermatologista, devido as normas regulamentadoras vigentes, tais produtos não podem ser aplicados em terapias injetáveis, como já acontece no Japão e Coréia do Sul. Uma das saídas nos consultórios é por técnica de “drug delivery” com laser fracionado, que facilita a entrega e absorção de ativos pela pele. “Essa técnica pode ser feita através de laser que abre microcanais fazendo com que os medicamentos atuem de maneira mais profunda e concentrada”, complementa Karla.
Os valores costumam variar entre R$ 1.500 e R$ 2.500 e os efeitos, em geral, são notados logo na primeira quinzena. “Em cerca de 15 a 30 dias, em geral, é possível sentir alguma mudança. Mas é importante destacar que isso é muito variável, pois depende de fatores como: a regularidade e adesão ao tratamento, o tipo de problema que queremos melhorar e principalmente a capacidade de resposta individual de cada paciente”, reforça Karla.
Nas prateleiras
No mercado cosmético, estes regeneradores de tecido aparecem em fórmulas de skincare combinados a ativos hidratantes e preenchedores. Lá fora, já estão presentes no portfólio de marcas como Dra. Barbara Sturm, que inclui o Exoso-Metic Face Serum (US$ 535), formulado com exossomos e fatores de crescimento sintetizados combinados a vitamina E e óleo de bergamota, para hidratar e melhorar a elasticidade. Já por aqui, a Dermage acaba de lançar o Sérum Exocare PDRN (R$ 299), que combina exossomos, PDRN (derivado do DNA purificado do salmão que também atua como um mensageiro celular enviando sinais para as células da pele para que elas produzam colágeno e elastina), niacinamida e centella asiática com a promessa de atuar na regeneração celular, estimular a produção de colágeno e elastina, além de hidratar intensamente.
Todo cuidado é pouco
Apesar da animação da indústria, uma reportagem recente, publicada em outubro pelo MIT Technology Review, afirma que o mundo dos tratamentos com exossomos está sendo comparado ao “velho oeste” por alguns pesquisadores. Segundo o texto, há um grande problema com as grandes promessas, já que os pesquisadores ainda não entendem completamente como os exossomos funcionam e, claro, isso não os torna isentos de riscos. A análise ainda afirma que mesmo nos países onde os tratamentos são um hit, como a Coréia do Sul, Japão e EUA, ainda não há padrões ou regulamentações estabelecidas para a fabricação de exossomos para uso em pessoas. Isso deixa bastante espaço para as empresas desenvolverem exossomos de diferentes maneiras — e para desacordos sobre qual método é o melhor e mais seguro.