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“O ritual de tomar o chá me ensinou a contemplar os momentos de troca de outra forma”, Gabriela Song
por Vânia Goy
“Sou paulistana e filha de pais de sul-coreanos. Quando estava na faculdade, senti despertar em mim um desejo profundo de me conectar com as minhas raízes e fui para a Coréia do Sul. Na busca pela minha identidade, viajei pelo interior do país e passei algum tempo numa cidade chamada Daegu. Lá experimentei uma vida em outro ritmo. Aprendi a meditar e também fiquei muito próxima às mulheres mais velhas da vizinhança, sempre observando e aprendendo como elas bordavam, faziam doces tradicionais e bebiam chá. Elas eram verdadeiras colecionadoras de variedades raras de pu’er, um tipo tradicional de chá fermentado.
Nos encontrávamos quase todos os dias, às vezes pela manhã, às vezes no meio da tarde, para degustar uma xícara de chá juntas. O ritual era repleto de detalhes. Conversávamos sobre o chá que seria preparado, sentíamos o aroma das folhas secas e, depois, delas úmidas. As cerâmicas usadas eram todas simples, mas muito especiais e raras, escolhidas a dedo para honrar a presença de cada convidada. Todas as peças eram purificadas e aquecidas para receber o chá.
O ritual diário de tomar o chá com tanto cuidado me ensinou a contemplar os momentos de silêncio e troca de outra forma. Essa foi uma das experiências que preencheu a minha busca pessoal. E muitas das lições só entendi quando voltei de viagem, porque elas são sutis, como o sabor do chá. Sinto o quanto a prática me abriu para conectar diferentes aspectos da vida cotidiana e influencia na forma como cozinho, me exercito e cuido do meu corpo, me visto e olho para a minha casa até hoje. Tento recriar esse outro tempo que experimentei dentro da minha casa, cultivando coisas simples e bonitas de olhar, espaços que me façam sentir bem e conectada com o presente. O chá tem esse poder. É preciso esperar a água aquecer, é preciso esperar ele esfriar um pouco para degustar, é preciso desacelerar para apreciar.”
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Gabriela Song é paulistana e filha de pais de sul-coreanos. Quando estava na faculdade de moda sentiu despertar um desejo profundo de se conectar com suas raízes ancestrais e partiu para o interior da Coréia do Sul. Lá, passou a se reunir com as vizinhas, que preparavam e serviam, todos os dias, xícaras de pu’er, uma variação fermentadas da camellia sinensis.
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