Belezinha
Transição capilar: Julia Gastin e o chanel liso que se transformou neste cabelão!
por Vânia Goy
Quando conheci a Julia Gastin, em 2011, ela tinha acabado de voltar de Paris. Tinha o cabelo chanel, liso, levemente ondulado. Com o passar dos anos, vi a sua carreira profissional se transformar numa explosão de referências que viram acessórios lindos e genuinamente brasileiros. E o seu cabelo acompanhou essa trajetória. Nos encontramos para falar de como a sua tomada de consciência transformou também a sua identidade estética. Acompanhe.
“Cabelo para mim tem muita relação com o lugar e com o clima. E em 2011 eu tinha o cabelo curto, na altura do queixo, levemente ondulado. Eu estava voltando a morar no Brasil e pensar sobre as minhas raízes ou aceitação não era algo que passava pela minha cabeça.
O ondulado controlado que eu usava era feito com alisamento desde os meus 17 anos. Esse cacheado que tenho hoje não rolava nessa época. Eu não curtia o cabelo ondulado sobretudo porque ele soava inadequado socialmente. Me lembro de fazer escova até três vezes por semana. Ser adolescente é difícil para caramba, né?
E quando voltei de Paris, rumo ao Rio de Janeiro, despertei para um monte de coisas. Fui me entendendo com a minha pessoa, com tudo ao meu redor. Não passei por uma transição capilar dramática. Não foi nada de repente. O cabelo curto foi virando um cabelão no ritmo da minha tomada de consciência e adaptação às novas necessidades e desejos que iam aparecendo.
Fui desencanando da química, fui desencanando da franja, fui entendendo que eu não curtia mais camadas e queria um corte reto. Fui aprendendo a usar novos produtos para a mudança de textura e procurar por profissionais que entendessem essas novas vontades. Tudo gradativamente.
Hoje tenho o cabelo virgem: sem química, sem coloração, com fios brancos que começam a aparecer e eu nem tô ligando.Tô curtindo essa onda boa da gente falar de aceitação, das raízes, de diversidade e de uma relação mais natural com a beleza. E tenho uma obsessão de pensar na identidade brasileira, nas misturas que nos tornam únicos no mundo. Essa pesquisa é a base do meu trabalho, da onde tiro inspiração para criar as minhas jóias e, sem dúvida, foi um componente importante da minha transformação visual nos últimos anos.
Sou brasileira, nascida no Rio de Janeiro, descendente de franceses e árabes, apaixonada pela Bahia. Tem gente que acha esse cabelão demais e fala que ele tem essa pegada 70’s, meio Gal, meio Bethânia, meio Novos Baianos. Tem gente que usa as mesmas referências para dizer que ele é desarrumado. Preconceito ainda existe. Mas gosto assim, bem longo, com volume e com frizz. Ainda mais no Rio… Lutar contra o frizz no clima úmido é perda de tempo.
E muita gente me pergunta se corto o cabelo! Corto as pontas só uma vez por ano. Frequento o Care, salão em Ipanema, onde o Caetano Gusmão, cabeleireiro, entende meu cabelo, respeita os meus limites e gosta desse estilo. E ele ainda é baiano. Coincidência louca!
Lavo um dia sim e outro não com xampu e substitui o condicionador pela máscara. Alterno o uso de uma proteína entre as lavagens como leave-in, para não pesar e não comprometer o volume. E só deixo secar ao natural. Se eu puder secar andando na rua, melhor ainda. Sou do tipo que chega nos lugares de cabelo ainda molhado. Hoje uso as fórmulas mais simples e naturais do Christophe Robin, que compro na Dominique Maison de Beauté, em São Paulo. Não achei que faria tanta diferença, mas sinto que os fios mudaram demais: têm mais vida, mais brilho e ficam mais soltos.
Entendi que meu cabelo tem um ritmo próprio e tentar controlar a finalização, o cacho, o volume, é, de novo, perda de tempo. Ele tem dias de cachos mais definidos, dias de ondas mais abertas, dias de mais ou menos volume… E tudo bem! O cabelão é importante para mim, me deixa sentir poderosa. Gosto de cuidar e de fazer as melhores escolhas, mas sem me sentir refém dele!”