Respira
O poder do som: como a estimulação sonora impacta nosso bem-estar
por Danielle Sanches
Você certamente já notou uma onda de energia percorrendo o corpo ao ouvir sua música favorita tocando. Ou sentiu-se relaxado e calmo enquanto escutava o barulho da chuva caindo lá fora, ou o vento balançando as árvores. E aquela playlist maravilhosa que ajuda a ter foco na hora de produzir uma apresentação no trabalho?
Tudo isso acontece porque os sons que estão ao nosso redor têm um impacto importante no funcionamento do nosso cérebro. Sabe-se, por exemplo, que barulhos em baixas frequências têm um poder relaxante, enquanto as frequências mais altas produzem um “boost” de energia e estado de alerta no nosso sistema nervoso. E é justamente esse conhecimento que está sendo usado para melhorar a nossa saúde mental e ainda promover bem-estar. Chamadas de terapias sonoras, elas utilizam diferentes tipos de barulhos bons para promover efeitos específicos e “curativos” no nosso cérebro.
É fato que esse tipo de terapia não é exatamente uma novidade: há registros históricos de séculos passados em que a música era usada como forma de induzir estados emocionais e até espirituais – não à toa, tambores e outros instrumentos sempre fizeram parte de rituais e cerimônias espirituais e também eram usados em sessões de cura em tempos antigos. A diferença hoje é que a ciência já consegue ver como as ondas cerebrais se modificam ao escutar diferentes tipos de sons. “A relação entre música e nosso bem-estar existe e é bastante complexa, mas a neurociência hoje está nos ajudando a compreender melhor essa associação”, afirma Marco Andrée Morel Téliz, neurologista membro da ABN (Associação Brasileira de Neurologia) e especialista em promoção de saúde e educação musical.
De acordo com o especialista, quando falamos em uso da música ou estimulação sonora como ferramenta de terapias curativas, as evidências mostram que há efeito positivo para reabilitação de doenças neurológicas e até para controle da pressão arterial. “Esse tipo de terapia também auxilia a promover o equilíbrio emocional e ainda melhorar a atenção e trabalhar a memória”, afirma.
Um desses estudos, por exemplo, realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostrou que o uso de sons produzidos em tigelas tibetanas durante a meditação atingiu marcadores importantes para promover bem-estar. Há ainda estudos que utilizam estimulação com ondas sonoras, por meio de ultrassom, para tratar problemas neurológicos como tremores e até doenças como Alzheimer e fibromialgia.
As cores do som
No quesito melhora do sono, uma das maiores preocupações das pessoas especialmente após a pandemia, uma busca rápida pelas redes sociais entrega três tipos bastante falados de sons: barulho branco, rosa e marrom – ou, em inglês, “white noise”, “pink noise” e “brown noise”. Em comum, os três tendem a “mascarar” barulhos externos que podem incomodar a nossa noite de sono, especialmente em quem tem dificuldades para atingir o sono profundo. A diferença entre eles é a frequência: o branco contém todas as frequências audíveis pelo ouvido humano, enquanto o rosa tem menos frequências altas. Já o marrom oferece apenas as frequências mais baixas.
Entre os três, o “barulho branco” é o mais conhecido – parece um chiado de rádio quando está fora da frequência e já foi muito usado para melhorar a performance nos estudos também. Já o “barulho rosa” lembra o barulho contínuo da chuva ou do vento e tende a ser mais delicado. Por fim, o “barulho marrom” é mais forte e lembra o som do vento forte batendo na janela. Uma busca rápida pelo Spotify te leva a playlists e músicas com tempo suficiente pra te ajudar a relaxar na horizontal.
Cristais e campos magnéticos
Conhecida como sound healing, a terapia que utiliza o som produzido pela vibração de tigelas de cristal quartzo é uma prática bastante conhecida nos EUA e que tem conquistado famosos como Meghan Markle e Kim Kardashian, que, para o chá de bebê de seu quarto filho, preparou um dia todo de terapias e práticas de bem-estar para os convidados, incluindo uma sessão de sound bathing.
Por aqui, a tendência vem ganhando mais espaço recentemente, com espaços dedicados ao tema, como a clínica Awake, em São Paulo. De acordo com Patrícia Diogo, terapeuta no espaço, o uso dessa técnica ajuda a reequilibrar os campos magnéticos do corpo e estimular um processo de autocura, já que as tigelas vibram na frequência 432 Hz – a mesma do universo e presente na natureza. “É um momento de relaxamento, mas também de despertar aquilo que precisa ser mudado ou de enxergar com mais clareza o que precisa ser visto na própria vida”, explica.
Diogo lembra ainda que a sessão é toda feita como se estivesse promovendo um ritual, o que também é importante para o nosso cérebro repor energias, reduzir a ansiedade e ainda estimular o bem-estar. Aprovadíssimo e recomendado!