Fragrância
Um amor desvendado por 1nariz: Narciso Rodriguez
por Vânia Goy
Por Dênis Pagani, do 1nariz
A especialidade de Francis Kurkdjian parece ser pegar um acorde clássico, como o fougère de barbearia de Gaultier Le Mâle, e jogar num contexto moderno e confortável, cheio de almíscar. Criado em parceria com Christine Nagel, Narciso Rodriguez for Her (379, 50 ml) vai pelo mesmo caminho, só que o personagem é o acorde chipre. Uma ideia parecida ele explora também em My Burberry, só que mais cor de rosa, mais frutada.
Foi-se o tempo em que esse acordo de musgo de carvalho, patchuli, ládano, rosa e/ou jasmim parecia mais uma poção da medicina chinesa, como o maravilhoso Clinique Aromatics Elixir, ou coisas cerebrais como Guerlain Mitsouko. Com a grande restrição ao uso da matéria-prima (mais aqui) e, o impulso da mudança do gosto dominante, o chipre passou a ser mais calcado no patchuli, em detrimento do musgo. Nada do denso, terroso e canforado do patchuli dos anos 70, o novo patchuli é limpo, quase só a textura ranhurada da madeira, frequentemente emparelhado com frutas suculentas. Mas não é este o caso.
Narciso Rodriguez for Her Eau de Parfum é extremamente feminino sem apelar para a caloria ou florais exibidos. Me parece que sua melhor qualidade é uma certa austeridade, uma secura (de falta de doce e de cremoso), a elegância, indo quase na contramão do que se imagina do gosto atual. O Eau de Parfum abre com pêssego azedinho. Ela dá espaço para uma rosa “fria”, não opulenta, sobre uma cama de patchuli muito limpo, só levemente terroso. Aquecendo na pele o perfume ganha difusão muito bonita, o almíscar cresce atalcado, nunca chega a um atalcado denso e envolvente, de outras épocas. For Her EDP tem aquele aspecto difuso, de neblina, bastante moderno, como luz num vidro jateado. O final é quase que só um calor de pele do almíscar e sândalo. Tudo sem adorno, um cinza-rosa sem excesso.
Um aposto tropical: acho que perfumes de sensação seca acabam funcionando bem no verão, para disfarçar o grudento da umidade.
Bom, o perfume é caro. Sarah Jessica Parker Lovely tem uma ideia bem parecida, um pouco mais suave na secura, mais abordável, com impressão de pétala. Talvez mais fácil de gostar. E com preço incrível. Neste post rolou uma discussão sobre o assunto. Lalique Encre Noire pour Elle também vai pela mesma linha.
Gosto mais do Eau de Parfum, que é focado na rosa — no Eau de Toilette, a flor de laranjeira é central, mas a nota é meio dura, cortante, me lembra a do Elie Saab EDP, que também sofre do mesmo mal. A linha toda tem várias versões (L’Eau, Essence Eau de Parfum, Essence Eau de Musc, Musc Collection Eau de Parfum Intense, …) e precisa de um audioguia para navegar.
A versão L’eau é o caso em que mais é menos. Na saída a rosa é bem seca e terrosa de patchouli, mas o que era a beleza sutil do original ficou mais explícito e menos especial. Enquanto no For Her a impressão toda é mais abstrata, umas pétalas incrustadas num perfume cinza, no L’eau a rosa é mais rosa, mais frutada, mais suculenta, mais fresca, com esse fundo terroso, o musk mais leve e menos seco. Na minha cabeça, o efeito seco/abstrato do combo musk-patchouli é metade da graça do original.
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