Futuro
Ácido hialurônico, retinol e mais: como é o futuro de ativos clássicos no skincare de 2023 e além
por Larissa Nara
Desde de 2017, a L’Oréal mantém, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das seis sedes globais do seu Innova Centro de Pesquisa & Inovação. E não é por acaso. Além da rica biodiversidade, por aqui a gente tem os consumidores com tipos de pele e cabelo mais diversos do mundo – o que significa 100% dos tipos de fio e 55 dos 66 tons de pele. Sem falar nas condições climáticas muito desafiadoras que inspiram fórmulas para o mundo todo.
É também no mesmo endereço que fica, há quatro anos, um dos três labs da Episkin — braço de biotecnologia que produz pele humana em laboratório não só para testar os produtos da marca, mas para empresas de setores diversos, que vão da indústria alimentícia a brinquedos infantis. Desde 1997, tecido humano é reproduzido in vitro, para dispensar testes em animais, a partir de doações de clínicas de cirurgia plástica. Por ano, cerca de 150 mil tecidos são reconstruídos, e com eles, a marca contribui com regulamentação global que poupa animais de serem cobaias. Os outros dois laboratórios ficam na França e, estrategicamente, na China.
Durante uma visita ao centro de pesquisa da marca, conversamos com Elisabeth Bouhadana, diretora global de comunicação científica de L’Oréal Paris, que trabalha no laboratório francês há mais de 20 anos, e que veio recentemente ao Brasil para apresentar os primeiros lançamentos do ano da marca, como a linha capilar Elseve Pure Hialurônico e o sérum facial noturno Revitalift Retinol. Na entrevista a seguir ela fala sobre ativos clássicos na contemporaneidade, inovações de mercado e, claro, sobre o skincare do futuro:
Com a pandemia a gente passou por uma crise de confiança. Nos sentimos inseguros diante de uma série de fatores, o que, de maneira geral, impulsionou nossa busca por confiabilidade e fortaleceu uma busca por coisas seguras. Acredita que isso se refletiu também na indústria de skincare e nesse apego por ativos clássicos como ácido hialurônico e retinol?
Sim. Acredito que essa crise de confiança, que se intensificou com a pandemia, mas que começa antes em cenários políticos, econômicos e até com o movimento buscando mais transparência na indústria, refletiu no trabalho mais intenso com esses ingredientes fundamentais. É verdade, que sempre trabalhamos com retinol, vitamina C e ácido hialurônico, mas agora queremos explicar, como nossos produtos, que já são conhecidos do público e formulados com essas moléculas podem ser diferentes e trazer mais segurança com performance comprovada. E eu acho que, com a pandemia, houve essa mudança de chave na busca de promessas criativas por ativos já renomados, que são referência em estudos e que servem de base para todo mundo, só que agora de forma atualizada e em um nível cada vez maior de eficiência, segurança e confiabilidade.
E de que forma esses ingredientes aparecem em fórmulas contemporâneas? Nos lançamentos apresentados por L’Oréal Paris, por exemplo, eles entram, de maneira inédita ou como reformulação de portfólio?
Eles aparecem das duas formas, na verdade. Começam com as moléculas clássicas que conhecemos, como o ácido hialurônico de alto peso molecular, por exemplo, que a gente vem usando desde a década de 80, porque hidrata imediatamente e funciona como uma esponja na superfície da pele. Mas, a gente queria também fazer com que ela penetrasse mais profundamente. É claro que em cosméticos, não é possível atingir as camadas mais profundas da pele, mas queríamos, pelo menos, atingir a camada superficial da epiderme, e para isso, foi preciso procurar pelas menores moléculas desse ativo, que conseguem penetrar na pele e atingir as células, estimulando a produção do ácido hialurônico. Esse é um jeito mais sofisticado de trazer o ingrediente para as fórmulas. Já no caso do retinol, que é um ativo amplamente recomendado por dermatologistas pela atuação na renovação da textura da pele, o problema é a relação sensorial e a estabilidade, já que, uma vez que ele está estável, ele aumenta a sensibilidade. Por isso, a gente vem há quase dez anos trabalhando nessa tecnologia [Retinol Guard, que basicamente se baseia em envolver a molécula em óleos para ajudar a manter a estabilidade dela] que contribui na estabilização e no sensorial dessa fórmula de retinol puro, para que as mulheres realmente se sintam confortáveis em aplicar retinol, aproveitando seus benefícios sem efeitos colaterais, como irritação.
Com a chamada “skinqueirização” da beleza, cada vez mais produtos de corpo e cabelo vem sendo formulados com ingredientes popularmente vistos em fórmulas faciais. O jeito que a gente encontra esses ativos nessas fórmulas é semelhante ao jeito que eles se apresentam em produtos para o corpo e cabelo?
Depende. Por exemplo, no caso do ácido hialurônico produtos para o cabelo, a gente seleciona só as moléculas de alto peso de ácido hialurônico, porque ela precisa reter água e envolver a fibra capilar, protegendo-a, mas de uma forma mais sútil do que silicones e óleos fariam. Então, de modo geral, o ativo é mesmo, mas a maneira aplicada é diferente. Já no caso do ácido salicílico, o processo e a ação já são mais parecidos com a forma usada na pele, porque age na pele do couro cabeludo, para regular a produção de sebo e diminuir a colonização de bactérias.
Nos últimos anos, protetor solar deixou de ser um assunto relacionado ao verão. E a gente tem visto uma série de fórmulas que combinam proteção solar com ativos de tratamento. Acha que essa é uma maneira da indústria fortalecer e expandir esse mercado? E quais são os maiores desafios na hora de modernizar uma fórmula de protetor?
Para L’Oréal Paris é muito importante tornar as tecnologias da indústria acessíveis para todos e, acredito que, se você consegue unir mais de um ativo eficiente em um único produto, claro que ele se torna muito mais interessante e deixa a vida do consumidor mais prática. Além disso, proteção solar em si não é uma categoria que traz resultados visíveis e imediatos. Você passa e a pele está protegida. Porém, quando se coloca na fórmula ativos de tratamento, você garante que os consumidores mais ávidos por resultados não só vão usar na rotina diária, como vão preservar a beleza da pele por muito mais tempo. E para filtros isso é ainda mais importante porque é educacional. Como especialistas, nós sempre queremos informar que a radiação UV não só afeta a aparência da pele, mas causa danos celulares que podem causar problemas graves, como câncer. Então, acredito que inovando em textura, incluindo ativos de tratamento em conjunto com a proteção solar, o produto se torna mais atraente e nós ficamos feliz em saber que estamos fazendo algo bom para a saúde da pele e não só pela beleza.
Por fim, para você, como é o skincare do futuro?
A primeira coisa é que o skincare precisa ser sempre, sempre, eficiente em tratamento. Deve entregar eficácia mais rápida, que pode significar penetração mais rápida, e o que, creio, que encoraja as pessoas a usarem os produtos regularmente. Também é preciso unir benefícios imediatos e visíveis com um supersensorial. Além disso, o ideal é criar estratégias para melhorar o tom, a textura e a radiância da pele com soluções biotecnológicas inspiradas nos processos da natureza, que é sempre uma fonte inspiradora em processos e ativos.