Pessoas
Sophie Fontanel: quando o look do dia e a selfie fazem diferença
por Vânia Goy
Sabe quando você está à toa no Instagram e vai pulando de conta em conta até que, de repente, percebe que está deslizando sem parar em um perfil interessante? Pois foi assim que descobri a jornalista de moda Sophie Fontanel.
Primeiro, cliquei em uma de suas fotos curiosa por causa do seu estilo e cabelo branco. Cultivo uma mecha há uns quatro anos e TANTA, mas TANTA gente me faz perguntas, opina e é curiosa sobre o assunto que virei uma obcecada por mulheres que desistiram da tintura. Sophie, que tem o cabelo branquíssimo, não só resolveu deixar os seus naturais como também fez essa transição publicamente, fase a que ela se refere como “zebra”.
E, num mundo de selfies e looks do dia absolutamente sem personalidade, completamente comerciais, pré-fabricados e entendiantes, achei demais encontrar essa francesa de 54 anos cheia de estilo, ousadia e humor. Por sorte, a Nazish Munchenbach, da brasileira Granado e amiga de Sophie, promoveu esse nosso encontro inspirador que deu origem à conversa abaixo sobre cabelo branco (bien sûr), moda e auto-estima.
Selfies
“Nunca me senti bonita quando era mais jovem. Talvez fosse uma criança bonita, mas tinha os meus complexos na adolescência: meu nariz, meus dentes. Achava que todas as mulheres ao meu redor eram mais bonitas do que eu. E quando as pessoas tiravam fotos minhas eu me sentia mal. Cada vez que via as fotos pensava “ai, como sou feia!”. Sabe essa sensação? Quando você não gosta de você em uma foto?
Só que a possibilidade de fazer selfies com os celulares mudou tudo. Fiz algumas e me dei conta que, se estava sozinha, não me sentia tão mal. Comecei a passar por uma espécie de renascimento, olhando as minhas imagens. “Desse jeito fico bem. Assim pareço ótima”. Postei no Instagram e as pessoas achavam que eu estava bem. Foi a primeira vez na minha vida que me senti diferente. Acho muito importante tirar as suas próprias fotos. Obviamente é uma coisa narcisista, mas que pode ter uma perspectiva positiva. Todos precisamos nos adorar um pouco.”
Moda na vida real
“Sempre trabalhei como jornalista e colunista de moda, fui diretora de uma revista de moda. Por estar tão envolvida nessa indústria me dei conta que o problema não são as modelos. É a forma como elas são fotografadas.
Comecei a pensar sobre os meus próprios looks, não de forma comercial, mas para fazer o exercício de usar o que eu via nas revistas. Foi uma outra forma de aprender a me sentir bonita. Nas revistas você tem dezenas de opções para escolher as que ficam melhores juntas. Em casa é preciso fazer uma peça ter inúmeras possibilidades. Essa é a razão do meu sucesso. Eu realmente compro roupas e as visto inúmeras vezes.”
We <3 Granado
“Adoro a Granado, não é mentira! Descobri a lavanda Le Bon Marché e amei. Me sinto muito limpa com essa colônia. Antes de ir para a cama, coloco uma luva atoalhada nas mãos, encharco de lavanda e esfrego o corpo todo com ela. Comprei várias garrafas. É o meu perfume. Às vezes, crio um cheiro único colocando outro perfume só em alguns pontos, misturando com o cheiro da Granado. E, como sou francesa, uso o Chanel No 5.”
Cabelo branco
“Quando você tem alguns fios brancos é fácil de esconder. O problema é que eu estava colorindo o meu cabelo e, depois de quatro dias, eles já voltavam a aparecer. E comecei a pensar sobre deixá-los naturais.
Em Paris vou ao salão de Delphine Courteille, na Rue du Mont Thabor. Ela é fascinada por cabelo branco mas até para ela, que é muito moderna, foi difícil entrar na minha história. Um dia, ela estava tingindo o meu cabelo e eu perguntei como ele estava. E ela disse que estava completamente branco. E eu disse que da próxima vez eu cortaria um pouco para que ele crescesse com a cor natural. Deixei a raiz e fiquei por muito tempo com ele bicolor.
Comecei a notar mulheres de cabelo branco nas ruas, muito elegantes e bonitas, e me deu coragem e força para continuar. Eu tinha essa ideia de deixar a transição aparecer para mostrar pro mundo todo o que é exatamente. Muitas vezes foi difícil porque eu estava parecendo uma zebra. Mas fiz isso com orgulho. Era um jeito de dizer para as pessoas ‘olhe para mim, esta é a verdade, não tem ilusão’.
Alguns dias o cabelo branco me faz parecer mais velha. Você tem que lutar contra o seu corpo e contrariar a idade. Às vezes eu ganho essa briga, às vezes não. Não é um paraíso, mas é interessante.”
Exemplo a seguir
“As pessoas falam que eu sou um exemplo para elas. O meu primeiro pensamento é que elas estão loucas, é impossível! Mas agora aceito como verdade. Tenho 54 anos. Muitas vezes, pela manhã, olho no espelho e penso “parece que tenho 80″. É importante aceitar a verdade, você não é a mesma pessoas todos os dias do ano. Alguns dias me sinto muito jovem, meu corpo muda, a pele está melhor. Em outros está pior. E o modo como você se olha pode mudar tudo.”
Foto: João Bertholini
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