Criolipólise: o que deu errado no procedimento estético da modelo Linda Evangelista?
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Criolipólise: o que deu errado no procedimento estético da modelo Linda Evangelista?

por Larissa Nara

Recentemente, Linda Evangelista, modelo ícone dos anos 1990, passou a ocupar as manchetes após falar, pela primeira vez, que vinha sofrendo com as sequelas de uma criolipólise realizada há cinco anos. Em sua conta do Instagram, ela disse que passou por “duas cirurgias corretivas dolorosas e malsucedidas” depois que o procedimento, indicado para modelagem corporal em áreas localizadas, teve o efeito oposto e que, desde então, está com o corpo desfigurado e sofrendo de depressão. Além de reforçar o debate sobre pressão estética, padrão e adequação, especialmente imposto e exacerbado pela mídia, o post também levantou a importância de se fazer uma análise criteriosa (com a ajuda de um profissional qualificado) antes de realizar qualquer procedimento estético — mesmo aqueles não invasivos, como é o caso da criolipólise.

O tratamento em questão, chamado de CoolSculpting (da Zeltiq Aesthetics, subsidiária da Allergan*), é um dos procedimentos não invasivos mais populares nos Estados Unidos. Trata-se de um aparelho, geralmente definido abaixo da temperatura de congelamento, com ponteiras de diferentes tamanhos e que é aplicado em regiões com gordura localizada palpável, causando a morte celular no tecido adiposo. “Quando congelada, a célula gordurosa entra em apoptose (morte celular). Assim é possível eliminar cerca de 30% do tecido gorduroso do local”, explica Bianca Viscomi, dermatologista em São Paulo.

No entanto, no caso da modelo canadense, houve uma complicação raríssima, chamada de hiperplasia adiposa paradoxal, que causa justamente o efeito oposto ao tratamento. “Ao invés das células se programarem para morrer, elas começam a se proliferar e formam um tecido gorduroso duro e fibrótico na região aplicada”, explica. A especialista ainda diz que os casos são bem raros — a estimativa é que o número seja inferior a 0,1% — e não tem nada a ver com erro de aplicação do profissional. “É um risco mínimo do aparelho. Por isso, antes de se fazer o procedimento [criolipólise] é obrigatório que o paciente assine um termo de consentimento no qual o efeito colateral está descrito”, afirma.

Tal aumento dos depósitos de gordura não é prejudicial à saúde, mas também não desaparece sozinho e para tratar casos como este é necessário fazer uma lipoaspiração da área, paga pelo fabricante do aparelho. “Quando isso acontece, o fabricante do equipamento arca com todos os custos. Nesses casos, e feita uma análise super criteriosa e o médico responsável precisa fazer um laudo completo, com histórico clínico do paciente, fotografias e termo de consentimento assinado”, diz. E mesmo com a lipoaspiração o resultado pode não ficar satisfatório. “Como tecido gorduroso fica muito duro, não é uma cirurgia fácil e algumas áreas são mais complicadas do que outras. Dependendo da região, é possível que a pele fique com um aspecto ondulado depois”, explica.   

Bianca alerta que, como qualquer procedimento, a modelagem corporal não é algo indicado para todo mundo. “É preciso boa avaliação médica sempre! No caso deste procedimento, a recomendação é para pacientes que não têm um sobrepeso importante, que possuem IMC e musculatura normal, e desejam tirar um pequeno acúmulo de gordura localizada que só pode ser removida com procedimento”. Além disso, ela reforça que nenhum procedimento estético é isento de riscos. “Por isso, é importante pesquisar, entender se a intervenção em questão é realmente recomendada, se é reversível, quais os cuidados e possíveis riscos (que sempre existem) e se, caso aconteça algo, se o profissional está capacitado a te acompanhar e te dar assistência durante o processo”, finaliza. 

*a empresa não emitiu posicionamento sobre o caso.

ILUSTRAÇÃO: Victoria Andreoli

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