Pessoas
Explante de silicone: Thai de Melo Bufrem conta sobre a retirada das próteses
por Vânia Goy
– Thai, tudo bem por aí? Como você está se sentindo?
– Tô insuportável, tô me sentindo gata, tô revigorada!
Thai de Melo Bufrem, jornalista que engatou uma carreira de sucesso como influenciadora digital desde o ano passado com esquetes que combinam muito estilo, reflexões e doses de humor, resolveu tirar as próteses de silicone que tinha há 10 anos. Esse é um assunto em alta por razões diferentes: tem gente que se incomoda fisicamente com elas depois de um tempo, tem gente que não se sente mais confortável no próprio corpo.
“Sempre botei meu corpo à mercê do que o outro esperava: nasci muito magra e, adolescente, tomei remédio pra engordar. Quando minhas as referências, lá nos 2000, eram as modelos magérrimas, tomei remédio para emagrecer, e com o silicone não foi diferente”, me disse por telefone. “Fique nessa a vida toda e venho me libertando dessa coisa de projetar a necessidade de controle e toda autoestima exclusivamente no corpo.”
Thai, que tem 34 anos, engravidou do primeiro filho aos vinte e poucos anos. “Depois do nascimento do meu segundo filho, meu peito, que já estava murcho, ficou assustadoramente flácido. Lembro das minhas amigas falarem que eu estava exagerando, mas concordarem comigo depois que viam.” Conclusão: ela marcou a cirurgia 6 meses depois de parir.
“Sempre quis botar silicone quando era adolescente, meus pais nunca permitiram, então eu tava mais animada de realizar o sonho e perder a vergonha de ficar pelada até na frente do meu marido do que, de fato, conseguir analisar com clareza os riscos que uma cirurgia como essa envolve”, disse. “Exemplo máximo: ninguém pensa que em 10 anos precisará ter dinheiro para fazer uma nova cirurgia de troca de próteses…”
Na época, Thai retirou o excesso de pele com uma mamoplastia e botou as próteses. “Senti muita dor no pós-operatório, e olha que tive dois partos normais. Com o passar dos anos, fui tocando a vida, mas sempre acompanhada de uma assimetria entre as próteses, que não me deixava nada satisfeita, e algumas pontadas locais que me incomodavam, mas pareciam estar relacionadas ao procedimento.”
Estalo
“Todo mundo fala dos implantes de silicone, mas ninguém fala sobre a possibilidade de retirar as próteses. Eu nunca havia pensado nisso, e quando desejei, encontrei muita resistência entre os médicos: cruzei com os que diziam que não era possível e que explantes nunca têm bons resultados estéticos. Até que, há três anos, num dia especialmente dolorido, comentei com uma cliente na loja que trabalhava. Ela, que tinha cerca de 50 anos, me contou que havia retirado as próteses. No provador, abriu o sutiã e achei o resultado lindo. Senti o estalo que poderia sim voltar atrás.
Fui ao médico dela, mas na época não podia bancar a cirurgia. Botei na minha cabeça que era só com ele que eu faria e desde então me preparo para esse momento. No ano passado eu estava no auge da insatisfação, me sentindo triste, mesmo. Conversamos bastante, avaliei riscos e expectativas, ele sugeriu que poderia, por exemplo, trocar a prótese ou recorrer a um enxerto. Não quis. Resolvi remover o silicone e o excesso de pele.
Não acho que ninguém deva retirar o silicone, não sou contra cirurgias plásticas ou procedimentos estéticos, muito pelo contrário. Quero é que a gente invista mais tempo se reconhecendo, exercitando a liberdade de ser o que se é, questionando o desejo por imediatismo, tomando decisões como essa com a clareza que, algumas delas, ainda que reversíveis, nos transformam e nos acompanham ao longo dos anos.
Quando acordei no hospital, antes mesmo de ver o resultado, senti alegria e uma leveza no peito. Quando me vi no espelho me emocionei de verdade. Senti que estava me encontrando, me perdoando pela relação conflituosa que mantive com meu corpo e a comida por tanto tempo.”