Um encontro com Barnabé Fillion, perfumista e criador de delícias da Aesop e Le Labo
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Um encontro com Barnabé Fillion, perfumista e criador de delícias da Aesop e Le Labo

por Vânia Goy

Barnabé Fillion nunca quis ser perfumista. O francês trabalhou, até os 25 anos, como fotógrafo (me contou que foi assistente de Helmut Newton!) e quando desenvolvia um projeto colaborativo na companhia de um poeta, um arquiteto e um nariz, despertou pro assunto. “Acompanhando Victoire Tobin-Dauge me apaixonei pela linguagem olfativa sem intenção de me tornar um profissional. A ideia era criar uma conversa visual sobre o tema, depois pedi a ela mais informações e no fim das contas tive aulas por uns quatro anos. Victoire sabia exatamente qual direção eu gostaria de explorar e realmente me estimulou a desenvolver uma assinatura”, me disse aqui em São Paulo, durante uma degustação gastronômica-olfativa promovida pela Royal Salute, marca premium de whisky da qual é embaixador.

Seu processo de criação passa longe de avaliações, pesquisas de marketing ou tendências e é profundamente conectado com a memória. Aprendiz de Christine Nagel, nariz da Hermés, foi treinado para identificar centenas aromas diferentes. Também estudou fitoterapia e botânica e, meio sem querer, leva um pouco de tudo pros frascos. Quando falei que acho mágico conseguir recriar cheiros na memória, ele disse que requer, mesmo, muito treino. “Consigo lembrar de um jardim em Paris [onde mora] e trazer seu aroma à tona. Essa coisa efêmera e memorável me fazem amar o que faço. Mas arquivar mentalmente cheiros dessa forma é algo que realmente requer um estímulo permanente.”

Uma das coisas que diz ter ajudado a aprimorar a memória e capacidade de criar combinações originais é meditar. “Estabiliza a mim mesmo, me ajuda a encontrar uma posição de neutralidade. Criar esse espaço vazio, sem julgar pensamentos, me leva a encontrar, de forma espontânea, pensamentos que não me ocorreriam normalmente e ter uma perspectiva diferente, inclusive sobre aromas.”

Na sua lista de cheiros memoráveis tem o mix de pólen e poeira dos dias quentes de Paris e olíbano — “me lembro do impacto quando senti esse cheiro de frankincense em uma igreja, pela primeira vez” — mas diz que é curioso como os favoritos mudam com o tempo. “Agora estou trabalhando com notas florais muito leves, algo que nunca tinha feito antes.” Pergunto se ele começa a criar perfumes a partir de notas que anda estudando, mas ele diz que geralmente começa de uma memória visual. “É como se eu trocasse a lente de uma câmera por uma macro. Começo pensando nas superfícies, cores, borrões e texturas. E vou me aprofundando, ficando mais e mais e mais e mais próximo para extrair os detalhes. Começar a pensar numa fragrância é muito sobre uma sensação e algo sinestésico, que também envolve estímulos visuais.” 

Para Hwyl, sua sua segunda colaboração com a Aesop, por exemplo, ele tirou inspiração do Koh-do, cerimônia japonesa do incenso. Junto a esse aroma, colocou cheiros de uma floresta japonesa antiga, com madeiras e musgo, aroma mineral da água, silêncio vívido e texturas da natureza. Sua lista de criações memoráveis também incluem o Marrakech Intense, da Aesop, e o Geranium 30, da Le Labo. A mais recente (e a que ele usava no dia que nos encontramos) chama-se Biography, criada com a artista coreana Anicka Yi e com previsão de lançamento para novembro deste ano. Quando pergunto se ele recebe algum briefing das marcas, me diz que só aconteceu uma ou duas vezes e que, geralmente, faz o processo todo de forma colaborativa. “Gosto de me comprometer com trabalhos que dão espaço para diálogos criativos, profundidade e atenção total aos detalhes. A vida é muito curta e há muitas coisas para serem criadas.

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