“Algo perfeitamente bonito pode ser entediante”, Dries Van Noten e sua nova coleção de beleza
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“Algo perfeitamente bonito pode ser entediante”, Dries Van Noten e sua nova coleção de beleza

por Vânia Goy

Tenho uma admiração profunda pelo Dries Van Noten, a forma como ele usa cores, texturas e formas em suas coleções de moda – e eu nem sou a pessoa das roupas coloridas, né? Dries é belga e um daqueles estilistas que tem assinatura reconhecida e trajetória consistente no mercado de luxo desde a década de 80, quando fez parte do coletivo Antwerp Six, que reunia expoentes diferentões que saíram da Bélgica para desfilar em Londres. 

Para minha alegria, Dries lançou recentemente uma linha de beleza que transforma todo esse repertório encantador de moda em batom, pente, blush, espelhinho e até fragrância. Demorei pra terminar de ler uma entrevista ótima que ele deu para a revista Wallpaper e decidi traduzir uns trechos para você se deliciar com o trabalho do designer. E achei interessante a primeira pergunta que ele fez a si mesmo antes de se debruçar sobre o assunto: há tantos produtos de beleza por aí. Existe algo que a gente ainda possa criar? “A resposta foi sim, a gente pode contar uma história diferente. Porque nas minhas coleções de moda, eu sou um contador de histórias. As minhas roupas fazem que você sinta algumas associações e conexões, porque eu trabalho com todos esses contrastes, toda essa oposição”, disse. 

De todos os produtos, ando curiosa com as dez (!) fragrâncias, um debut e tanto. Todas sem gênero, cada uma delas criada por um perfumista diferente com uma interpretação zero previsível de aromas florais. Flores são uma fonte de inspiração enorme pra ele, com versões estampando coleções com suas formas e cores. Tanto que ele convidou os criadores das fragrâncias para caminharem pelo seu jardim bucólico que mantém uma casa do século 19, nos arredores da Antuérpia. Já dei essa dica outras vezes, mas repito: assista o documentário Dries, disponível na Netflix, que mostra um tanto da personalidade, elegância e cuidado (inclusive com o jardim!) que fazem parte de seu trabalho. “Eu trabalhei com os perfumes da mesma forma que faria com meu time na criação das coleções de moda. A ideia era dar a eles (os perfumistas) um ponto de partida amplo. Contei minha história, convidei eles para visitar a minha casa e o jardim para que cada um entendesse como eu trabalho com as plantas, especialmente com flores, e assumirem o risco de colocá-las juntas de formas esquisitas”

As rosas são suas flores favoritas, por isso há duas fragrâncias diferentes usando a flor, de formas distintas e nada óbvias: Rosa Carnivora, criada por Daphné Bugey, é um blend cremoso de rosa com vetiver e patchouli – que pra mim soa quentinho. A outra versão, Raving Rose, de Louise Turner, é picante. “Ambas são uma espécie de tapa na cara”, ele disse.

Algo perfeitamente bonito pode também ser entediante, segundo ele. De várias formas, os perfumes são essa tentativa de enaltecer a beleza inerente das flores em combinações surpreendentes. Os frascos, que combinam estampas e cores criadas em várias de suas coleções, já dão uma pista que a linha toda é diferentona. Os batons também seguem os mesmos padrões de embalagem e foram lançados em 30 versões diferentes, que incluem acetinados, foscos e transparentes. “O que é bonito para mim pode ser muito feio para você e vice-versa”. Algo que é considerado por muita gente como bonito eu acho chato. Por isso gosto tanto de trabalhar com contrastes. Gosto de ter estranheza na minha beleza.’

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