Fragrância
Angel, de Thierry Mugler: sim ou não? O 1nariz diz sim!
por Vânia Goy
Sim, belezinhas. Eu – mais do que ninguém – esperei muito por essa resenha. O querido Dênis dá o pontapé em 2015 falando do único, o mais marcante (e muitas vezes aterrorizante) Angel, de Thierry Mugler. A fragrância das fragrâncias! 😛
Por Dênis Pagani, do 1nariz
Qual é a necessidade de escrever sobre alguma coisa que todo mundo já conhece? Ainda mais, sobre algo que todo mundo tem opinião? Falando de Thierry Mugler Angel, o mais provável é que conheceu da pior maneira, ou seja, alguém lavado em perfume, sentado por horas ao seu lado — e você já sabe qual é a opinião. É quase impossível não cheirar e perguntar: isso é sério? É tanta informação conflitante e num volume tão alto! Angel é uma piada deliciosa, ao mesmo tempo impublicável e irresistível, que funciona na medida em que é absurda. Só para esgotar as perguntas retóricas, esta é a que melhor define: há muitos perfumes bonitos mas quantos são empolgantes? (De Tania Sanchez, no excelente Perfumes, the A-Z Guide. )=
Criado em 1992 por Olivier Cresp, foi o primeiro perfume de Thierry Mugler, que definiu a cara da linha — todos nascem a partir de ideias fortes — estabeleceu a tendência dos perfumes gourmand no mercado, é ainda muito influente, muito vendido, tem apaixonados e odiadores na mesma medida. Os louros devem ser divididos entre Cresp e Vera Strubi, diretora criativa da divisão de perfumes da marca até 2007. Como quem diz “vai ser assim ou caio fora,” desafiava os chefes para impor sua ideia de ponta a ponta: o chamado aos perfumistas para que enviassem ideias fortes, inovadoras, e se ater a que julgou mais promissora até o fim; o frasco em formato de estrela, caro de ser fabricado; a cor azul do frasco, incomum no momento; a ausência de testes com consumidores. Mas isso é assunto para um novo post (nesta entrevista exclusiva, Olivier Cresp comenta sobre Angel).
O perfume em si é uma batalha de opostos. De um lado, um patchouli a moda antiga, direto do mundo masculino, não muito diferente do que aparece em Givenchy Gentleman (o original, de 1974). Se hoje o gosto é por um patchouli limpo, mais transparente, quase só a textura de madeira, em Angel ele vem com toda a sua banda — e eles swingam. O tom é marrom escuro, com cheiro de fundo de armário (aquele mofinho), facetas chocolate escuro e também canforada, gelada. Em Angel, o chocolate, o lado comida da coisa, é reforçado pelo acorde pralinê (castanha + caramelo) e baunilha. A larga quantidade de etilmaltol usada, matéria prima que cheira como algodão doce, foi uma novidade na época e sua influência se estende até hoje.
Na outra ponta, emendando com o canforado do patchouli, está um acorde floral. Ele é histérico, agudo, quase químico. Um dia achei que parecia cheiro de suco de abacaxi com hortelã (o canforado do patchouli) e a imagem não me sai mais da cabeça: mentolado, elétrico, pinicante. Esse acorde pula na cara e cutuca o nariz, entrando em guerra com o grave, redondão, salivante, dessa gordice gostosa de chocolate e pralinê. Pelas dosagens das matérias-primas, apertar o botãozinho do spray lembra um desenho animado: um cometa pink espalhando suas partículas reluzentes até o horizonte sumir da vista.
Do meu lado, por mais que admire (e não é pouco), não quero passar uma refeição ao lado de alguém que caprichou na dose — já aconteceu e, sério, não é legal. Ou estar com essa pessoa em qualquer lugar cujo suprimento de ar seja limitado. Agora estou testando de uma miniatura sem spray, ou seja, aplicando com o dedo, está calor, e o resultado é menos atômico, agradavelmente vibrante na saída e — nham nham — chocolate escuro e caramelo no fim. Talvez dê para simular aplicando com o spray bem de perto no pulso e carimbando onde quer espalhar? Uma amiga comprou o desodorante, espirra no ar e passa embaixo. Quem acha doce demais pode testar o masculino, A*Men, que reforça a ponta amarga/chocolate do perfume. Quem acha doce e quer mais vai se dar bem com Pink Sugar, tem resenha aqui.
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