Perfume da ressaca
Fragrância

Perfume da ressaca

por Vânia Goy

Por Dênis Pagani, do 1nariz

Por que será que alguns cheiros – nem precisam ser perfumes – ficam insuportáveis quando a gente está de ressaca? Talvez pelo mesmo motivo que colocar o pé no chão fica insuportável nesse estado? Você tentando reconstituir os momentos finais através de fotos borradas de celular e palavras incompreensíveis no Notas. Já li que com a desidratação provocada pelo álcool o cérebro encolhe um pouco. Mesmo se não for verdade a sensação é essa, um cérebro pendurado por capilares delicados, igual jaca forçando o galho.

Uma amiga com mão de Playmobil, aquela no formato de copo, se trata com litros de misoshiro – sem julgamentos se for de pacotinho. Se tem alguém que goste muito de você por perto, mas demais mesmo, dá para pedir para cozinhar arroz no chá verde (ou qualquer chá). Mais para o bem cozido e com caldo, que você vai comer frio, de pouco, para consertar o estômago. E o perfume?

Eu fugiria de qualquer coisa talcada, envolvente, quente, grandiosa, ou muito complexa, por risco de sufocamento. E qualquer perfume que costume ser usado à noite, com um copo na mão. Florais, só se forem límpidos, luminosos, como Tommy Girl, Clinique Happy, Estée Lauder Pleasures, Acqua di Gió. Tudo que é amplo e transparente parece cair bem, como o cardamomo de Voyage d’Hermés, o aquático de Kenzo Homme. Colônias estimulam, dão vigor, e não correm o risco de chatear durando demais: 4711, Ferré Bergamotto Marino, Roger & Gallet Jean-Marie Farina, o que você costumar usar. Para evitar excesso de estímulo, afinal você já sente o corpo todo ao mesmo tempo, melhor aplicar longe do nariz: só nos punhos, só na nuca, embaixo da roupa. E lembrar que vai passar antes que você consiga varrer todos os confetes de casa.

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