“Nunca estou sozinha quando faço um chá: estou com a planta, o silêncio, o mistério e o amor”, Erika Kobayashi
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“Nunca estou sozinha quando faço um chá: estou com a planta, o silêncio, o mistério e o amor”, Erika Kobayashi

por Vânia Goy

Morei num apartamento muito pequeno em Paris. Tinha um baú embaixo da janela que era tudo: mesa, escrivaninha e armário. Dentro dele ficavam fotos, cerâmicas e um vidrinho de senchá tostado, bem simples, que eu havia levado do Brasil. Quando recebia amigos em casa, oferecia um chá. Abrir o baú era um ritual: eles escolhiam uma das poucas cerâmicas, eu limpava uma colher com um paninho que carrego comigo até hoje, preparava e servia o chá. Daí comecei a ganhar chás de presente.  

Há 10 anos dedico a minha vida ao chá e a compartilhar a essência da cerimônia do chá no mundo contemporâneo. A minha forma de estar no mundo é essa. Não é uma missão nem um dever. Tenho, inclusive, abolido o uso de vírgulas, barras ou hífen. Chá é arte trabalho vida espiritualidade. Não existe separação. Tudo é chá. Ele é a expressão da natureza em transformação. A memória da planta, seu cheiro doce, fresco como grama. 

Fazer um chá, para mim ou para os outros, é um convite à conexão e presença muito profundo. Nunca estou sozinha quando faço um chá. Eu estou no mundo com a planta, com o silêncio, com o mistério e o amor. Quando faço uma performance, tudo o que está lá é a minha vida até hoje. Se eu colocar um pouco mais, as coisas ficarão fora de lugar. Se colocar um pouco menos, também não sou eu. Nada é vazio de sentido. Cerâmicas, tecidos, chás e utensílios são um acumulado de significados materializados em objetos. 

Na cerimônia do chá, todos os objetos são simbolicamente purificados. Sinto uma grande responsabilidade e afeto. É importante que eu esteja bem para te oferecer um chá. Que o sentimento seja fluido porque é esse amor que nos coloca em conexão com o mundo, com os outros, com a natureza. Fazer um chá é fazer essa reverência à vida.”

Erika Kobayashi é artista e especialista em chás — uma das principais referências do tema no Brasil. Suas cerimônias do chá são performances artísticas que podem incluir movimentos de dança, instrumentos musicais e elementos brasileiros, como um chá mate no lugar do clássico matchá. Sua presença delicada e vigorosa desperta os sentidos, e, para além da técnica impecável e precisa, emociona pela poesia, presença e silêncio. 

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