Relax
Respirar fundo é conversar com o corpo
por Vânia Goy
Acredite no conselho quando alguém diz “CALMA, RESPIRA FUNDO!” em momentos de tensão. Observar a minha respiração virou algo crucial para administrar crises de pânico e ansiedade que tive há alguns anos. A respiração ofegante ou falta de ar eram os primeiros sintomas de crise. Hoje, respirar profundamente várias vezes é a primeira coisa que faço ao despertar e a última, antes de dormir. E também em momentos críticos.
Com a comunidade científica cada vez mais disposta a estudar práticas de meditação e mindfulness, bons dados aparecem para ajudar a encorajar as mais céticas de que respirar fundo é sim o caminho mais rápido para reduzir a ansiedade trazer calma em momentos de desespero. Em um artigo publicado pela revista Science, uma das mais prestigiadas do mundo, pesquisadores liderados por Mark Krasnow, professor de bioquímica da Universidade de Stanford (EUA), descobriram que, em camundongos, um grupo de nervos cerebrais que regula a respiração tem uma conexão direta com o centro do cérebro. Em outras palavras, a respiração pode ter um efeito direto no nível geral de atividade cerebral.
Satyanatha, brasileiro e mestre em meditação pelo monastério hindu Kauai Aadheenam, me contou que respirar com consciência foi uma das primeiras coisas que aprendeu na sua jornada. “A primeira lição é que tanto ela nos controla quanto podemos controlá-la“, conta. E se a gente for pensar primitivamente, nosso corpo aprendeu que perigo era um ataque animal, por exemplo. “Hoje não precisamos fugir de um tigre”, diz. “Os perigos identificados pelo nosso corpo são abstratos: uma discussão, o stress de uma entrega de trabalho, um prazo que não sai da sua cabeça.”
Em reação a eles aceleramos a respiração, como se precisássemos correr, fugir, sair de um evento traumático. “Essa é a resposta imediata ao perigo e ao medo. Pessoas ansiosas respiram curto, do alto do peito e falam rápido. Dessa forma, acabamos não distribuindo o ar para o resto do pulmão, que vai até lá embaixo, próximo ao diafragma.”
A metáfora da longevidade
Há milhares de anos os indianos descobriram que existe uma correlação perfeita e dupla entre a velocidade dos seus pensamentos e a da respiração. “Quando os pensamentos disparam, ela também se torna curta, desesperada. Essa é uma engrenagem. E é mais fácil controlar a respiração do que controlar a mente. Então, começar diminuindo o ritmo da respiração vai te ajudar a ter pensamentos de mais qualidade: a sua ansiedade não é justificada, o seu medo não é justificado. Para os indianos, a respiração é energia viva. O que a gente respira? A essência do calor e da luz do sol, o processo de transformação das plantas. Inspirar fundo é se alimentar da energia potente da natureza, de distribuí-la pelo corpo todo.”
A respiração é uma conversa íntima com o corpo
“Cabe a nós, seres conscientes, conversarmos com o nosso corpo. É um pedido de calma e um aviso que estamos no controle: ‘eu, consciência, estou no controle e vou te abraçar, corpo’. Coloque uma das mãos sobre o peito e tente fazer com que ele não se mova enquanto você inspira e sente o pulmão cheio de ar. Sinta o seu tórax expandir lateralmente e a barriga ficando cheia de ar.”
Fazer o exercício acima diariamente, por alguns minutos, vai te ajudar a desenvolver o corpo para que ele respire de outras formas. Também é um jeito ótimo de começar a dar os primeiros passos para uma rotina meditativa. Eu ainda coloco despertadores ao longo do dia, paro o que estou fazendo, levanto, acertar a postura e respiro longamente. Sempre divido alguns desses momentos no Stories do Instagram e fico abismada com a quantidade de respostas de mulheres que encontram conforto em apenas 14 segundos de prática.
Respirar antes de reagir
“Certa vez, cheguei no aeroporto da Carolina do Sul para fazer check-in e descobri que meu vôo tinha acabado de partir. Fiquei estático, respirando fundo para manter a calma, e a atendente achou que eu não tinha ouvido as informações e repetiu. Continuei respirando fundo, contra todos os pensamentos caóticos que vinham à minha mente, e perguntei o que poderia fazer naquele instante. Ela me disse que eu tinha que pagar US$ 300 por uma nova passagem e que o vôo só sairia no fim do dia. Não respondi, continuei respirando fundo. Ela ficou tão surpresa com o silêncio — raridades em situações parecidas — que me liberou do pagamento e só agendou a passagem”, conta Sat!