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Você anda tomando café demais?
por Manuela Aquino
Você anda tomando café demais? A gente percebeu que andavam rolando vários relatos gringos no Medium e Reddit falando sobre os benefícios de diminuir o consumo de café diário e, coincidentemente, amigos daqui também andaram contando que decidiram reduzir a quantidade de xícaras diárias.
Que café faz bem a gente sabe. Segundo uma revisão com mais de 200 pesquisas orientada pelo British Medical Journal, café faz mais bem do que mal. Os estudos apontam que bebedores moderados tinham menos doenças cardiovasculares e morte prematura por ataques cardíacos e derrames do que os que não tomavam café. Ele também é apontado como um antidepressivo natural, segundo uma pesquisa da norte americana Harvard School of Public Health, pela capacidade de contribuir com a produção de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar. Umas das explicações é a sua concentração de polifenóis, antioxidantes poderosos.
O problema é que, em excesso, café pode mesmo acelerar o coração, trazer a tona a sensação de ansiedade e te deixar dependente para despertar. Existe um consenso sobre a quantidade máxima que se deve consumir para não prejudicar o organismo. “Estudos recentes apontam 400 miligramas diários, o correspondente a três xícaras de 150 ml”, diz a nutricionista Adriana Stavro, de São Paulo. “Mas nem todos metabolizam a substância da mesma maneira. Para algumas pessoas, uma pequena xícara é o suficiente para deixá-las agitadas. Ouça o seu corpo, e se ficar inquieta, diminua.”
Thaís Rangel, funcionária pública de 38 anos, começou a tomar algumas xícaras aos 20, no escritório. “Recentemente, fiz um retiro de meditação e fiquei sem tomar a bebida: me senti bem. Resolvi parar e no começo foi difícil, senti dor de cabeça, irritação, e percebi que estava exagerando no dia a dia”. Pela manhã, Thaís passou a beber cevada em pó diluída em água quente. “É muito gostoso e tem uma cor bem parecida com o café. Para tirar a vontade de tomar algo quentinho durante o dia passei a tomar mais chá”, conta.
Ritual de todo dia
Fernanda Resende, de 42 anos, expert em identidade e comunicação, é do time que reduziu a quantidade e anda se sentindo melhor. “Falo muito no meu trabalho e era algo que fazia um carinho quentinho na minha garganta. E tem memória afetiva, o cheiro me leva pra casa da minha avó, da minha mãe”, conta. No final do ano passado, diante de uma rotina desafiadora, ela passou a sentir o coração acelerar em momentos de ansiedade. Conversando com um amigo que tinha diminuído a quantidade de café, decidiu reduzir as xícaras diárias. “Passei umas semanas sem beber e depois decidi que só ia consumir meu cafezinho com leite de manhã. Durante o dia, tomo muito mais água e faço chás. Aprendi a sentir os diferentes cheiros e troquei um ritual pelo outro”, fala Fernanda.
Uma variação de infusões para tomar ao longo do dia também foi a escolha do arquiteto Marcelo Maia, de 37 anos. “Cheguei a um ponto, no final de 2019, em que estava exausto e estressado, acordando cansado e bebendo café o dia todo”, conta. Ouvi um podcast sobre o assunto e resolvi experimentar reduzir. “A primeira coisa que mudou foi minha capacidade de concentração: desde começar e terminar uma tarefa até nas leituras mais longas”, diz.
E essa história que café depois das 16h causa insônia?
“Ele é metabolizado no fígado e algumas pessoas têm um metabolismo lento para essa substância, o que pode causar insônia dependendo do horário de consumo”, diz Diana Dall Angol, nutricionista da Bodytech Mont’Serrat, em Porto Alegre. “Outras, com metabolismo rápido, não terão problemas com o sono. É uma característica individual”. Segundo um estudo feito pela Universidade Wayne State, no estado de Michigan, EUA, o consumo de cafeína poderia contribuir com noites nem tão bem dormidas. Durante quatro dias, pesquisadores acompanharam os hábitos de 12 pessoas, que receberam comprimidos com 400 mg de cafeína, o equivalente a duas xícaras pequenas. Os candidatos consumiram as doses entre três e seis horas antes de ir para a cama. Um dos comprimidos era um placebo. Os resultados mostraram que aqueles que consumiram a cafeína até cinco horas antes de dormir perderam uma hora de sono. “Algumas pessoas, no entanto, acabam ficando condicionadas e tolerantes aos efeitos da cafeína”, explica Adriana. Como tudo na vida, o segredo está em se observar e consumir com moderação.